Teletrabalho e cultura: eis a questão

O teletrabalho não é para todos, mas é trabalho. É trabalho. E como qualquer outro modo de trabalhar, exige compromisso, dedicação e disciplina.

É evidente que a transição para este regime ocorreu em circunstâncias forçadas, impostas pela realidade vigente, mas sem alteração da cultura laboral. O que dificulta as coisas.

Para alguns tornou-se o cumprir de um sonho, para outros, o pior dos pesadelos. Mas há um aspeto que será comum à maioria: ter a possibilidade da experiência.

Quem nunca chegou ao local de trabalho, numa segunda-feira chuvosa, e desejou – possivelmente até comentou com colegas – ter a oportunidade de trabalhar a partir de casa?

O teletrabalho, garantidamente, não é para quem não entenda o conceito de disciplina. A culpa não é de ter a roupa por apanhar, a culpa não de ter de preparar as refeições, a culpa não é do cão ou do gato: é da disciplina, do foco e compromisso.

Aos pais, que têm filhos em casa, a culpa também não é do teletrabalho: reside na falta de condições para o desenvolver. São um caso específico, é certo.

Quanto aos restantes, o problema reside essencialmente na disciplina. Não é por acaso que a generalidade das empresas bloqueia o acesso a sites de diversão, como seja o paradigmático caso das redes sociais.

Hoje é sábado. Decidi, desde meados de abril, alargar o horário do meu escritório. Todos os sábados, até ao final de maio, estará aberto até as 13h00. Podia estar de pijama, mas não. O procedimento é exatamente igual ao praticado durante a semana: acordei às 6h15, cumpri a rotina matinal, comecei a trabalhar às 7h00. Vestido, de igual modo como se tivesse de me deslocar para uma empresa na presença de terceiros. Completado o horário, a primeira coisa será coisa que farei é desligar o computador. Teletrabalho significa cumprir regras, uma delas é descansar.

O trabalho remoto não é para todos, mas, garantidamente, não é para quem continue a olhar para o trabalho remoto como um regime não sério de trabalho.

O teletrabalho é trabalho sério, e o primeiro imperativo reside no trabalhador. Em primeira linha, cabe-lhe a ele reconhecê-lo e não continuar a encarar a realidade como se trabalhar remotamente significasse, tão só, fazer umas coisas, na medida em que o cão ou o gato não se intrometam.

Disciplina, foco e determinação são palavras-chave. Mindset o conceito.